segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Miguel Cadilhe.

Banqueiro, personalidade forte, ex-ministro de Cavaco.
Um peso-pesado da finança, que acaba de dar um bofetão no Governo e no Banco de Portugal e um safanão nos accionistas do BCP.

Contra si, terá a partir de agora todo o establishment político-mediático. Uma eventual vitória sua - dificílima, diga-se - ficaria na história como a primeira rejeição da sociedade civil ao Estado tentacular e omnipresente.

5 comentários:

Anónimo disse...

A verdade é que, sendo esta uma candidatura de pessoas competentes e credíveis, na área económica, parece relativamente certo o seu destino. Sem o apoio "institucional" de que goza a candidatura Ferreira/Vara, não parece ter grandes hipóteses. Aliás, numa lógica de grande calculismo, por parte do governo, pode ser mesmo providencial, dado que, se sair gorada, como se prevê, vai, por outro lado conferir a legitimidade necessária, á escolha de Ferreira/Vara, legitimidade essa que nunca teria, se corresse sozinha.

Anónimo disse...

Cheira-me ao principio do fim da Mexicanização socialista de Portugal... a ver vamos!
Naturalmente espero que esteja uma base de accionistas o mais alargada possível excepto o cow(boy) Joe (já não enganas ninguem... és de quem dá mais).
Tiro o chapéu ao Dr. Cadilhe, bem haja!

Anónimo disse...

E o Vara se perder?
Ninguém se preocupe porque volta para a Caixa Geral de Depósitos.
É uma vergonha esta transacção.
Depois de serem tão bem pagos na primeira oportunidade fojem para ganhar mais dinheiro.

Anónimo disse...

O Vara agarra-se à Vara... se perder.

Anónimo disse...

http://www.jornaldenegocios.pt/default.asp?Session=&CpContentId=308553&ListComment=1&CpMsgId=570479
4 Jan 2008

Um Homem - Por Magalhaes Pinto

Conheci Miguel Cadilhe em circunstâncias curiosas. Licenciado em Economia não há muito tempo, era ele professor da cadeira de Propedêutica Comercial I na Faculdade de Economia do Porto. Não tinha sido meu professor durante o ano. Mas era ele - em conjunto com outro distinto economista, Carlos Soares - o responsável pela sala de exame onde, em final de ano, eu e os meus colegas íamos prestar provas. Chegada a hora, os dois professores iniciaram a distribuição do enunciado da prova, ao qual havíamos de responder durante as próximas duas horas. Por mero acaso, havia-me tocado precisamente o lugar central da frente da sala de exame. Olhei a folha do enunciado. Passei-lhe uma vista de olhos e achei-o demasiado fácil. Ainda olhei o verso, a ver se havia mais, mas nada, estava imaculadamente branco. Ao cabo de meia hora, tinha-o resolvido, praticamente com a certeza de ter tudo certo. Olhei em redor. Os meus colegas trabalhavam afadigadamente. Iniciei a revisão pausada. Empatei o tempo, Parecia-me vergonhoso ter feito a prova em tão pouco tempo relativamente aos colegas. Quando faltava cerca de uma hora para terminar o tempo, já visivelmente entediado, entreguei a prova e saí da sala. E, como era uso, fiquei no corredor, à espera dos demais colegas, para confrontar resultados. Tive que esperar muito. Faltava cerca de um quarto de hora para terminar o tempo, saíram os primeiros. Comentários à prova e aos resultados da mesma. Primeiro fiquei surpreendido, logo a seguir assustado. Eles estavam a falar de coisas que não estavam na minha prova. Perguntei se a prova não era igual para todos. Claro que era. Eu era um maçarico, aquele era o meu primeiro exame na faculdade. Bom. Para abreviar a descrição, cheguei à conclusão que o enunciado era constituído por duas folhas. A mim só me tinham dado uma. A minha localização na sala e o facto de os dois professores terem repartido a tarefa de distribuição entre si provocara o lamentável equívoco. Entrei na sala alarmado. Contei o que se passava. Faltavam dez minutos para terminar o tempo. Miguel Cadilhe olhou-me fixamente, como quem pretende avaliar-me e à minha seriedade. Os dois professores não podiam prolongar o tempo de exame. Resoluto, Miguel Cadilhe encontra, num ápice, a solução. Dá-me a segunda folha do enunciado, manda-me sentar e resolvê-lo nos dez minutos que faltavam. E acrescenta: «Não faça cálculos; indique apenas todas as operações necessárias à resolução dos problemas.». Consegui fazer isso nos dez minutos. Obtive uma classificação elevada no exame. Nunca mais me esqueci daquele professor que não conhecia. Inteligente. Sério. Compreensivo. Rápido nas suas decisões. No caso, uma decisão tomada num segundo que, simultaneamente, não me prejudicava, não infringia as regras de exame, colocava-me em pé de igualdade com os restantes colegas e permitia-lhe a ele avaliar correctamente os meus conhecimentos. Começou aí a minha admiração por ele. Iria ter mais motivos. Alguns anos depois, o destino juntou-nos como companheiros de trabalho no Gabinete de Estudos do BPA. Num país carente de informação estatística, Miguel Cadilhe cria uma série de instrumentos que lhe vão permitir - e ao Banco - conhecer atempadamente a evolução da situação económica do país nas suas múltiplas facetas. O Banco publica o que passa a ser o barómetro, o mais completo e atempado instrumento de análise macroeconómica em Portugal. As informações vêm bimestralmente à luz no célebre Boletim «CONJUNTURA». Os serviços relevantes de Miguel Cadilhe ao país conheciam novo desenvolvimento. E é o número sete desse Boletim - publicado já depois da Revolução do 25 de Abril, que alerta as consciências mais preocupadas do país - e dos militares revolucionários - mostrando-lhes o abismo para onde o país estava a ser conduzido. Ficava eu a conhecer outra faceta do seu carácter. A sua enorme coragem. Porque foi preciso muita coragem para publicar aquelas informações naquele momento. Vi Miguel Cadilhe partir para o Governo. Julgava-o inteiramente merecedor disso. Com Sá Carneiro a Primeiro-Ministro e Cavaco Silva a Ministro das Finanças. Regressaria mais tarde, já com Cavaco Silva a Primeiro-Ministro, para ocupar o lugar de Ministro das Finanças. Julgo desnecessário dizer o que foi a revolução do quadro económico do país iniciada em 1985. Todos sabemos o que aconteceu. Miguel Cadilhe ganhou aí um título merecido que o tempo não apagou, antes confirmou. O de ter sido o melhor Ministro das Finanças de que Portugal dispôs após a Revolução. Ele foi, seguramente, um dos principais esteios da brilhante vitória eleitoral de Cavaco Silva em 1991. Mas Miguel Cadilhe não tem papas na língua. Tem mesmo alguma dificuldade em falar a hipócrita linguagem palaciana dos corredores do Poder. Atingiu muitos interesses com o seu governar bem sem olhar a quem. Criou inimigos. A sanha persecutória de muitos deles chegou a roçar o excremento. Julgo que um pouco desiludido, Miguel Cadilhe perdeu o interesse na política. Uma perda para o país, mais do que para ele próprio. Regressou à banca. Onde voltou a brilhar. Em pouco tempo, era administrador, primeiro do BPA já na posse de Jardim, depois do próprio BCP. Notícias que não posso confirmar dizem-me que Jardim o tratou mal. Talvez sim, talvez não. A verdade é que Miguel Cadilhe também se afastou desse destino. Regressando à vida docente. O círculo tinha-se fechado. Um círculo dourado, independente, sério, trabalhador, austero, rigoroso, competente, corajoso, brilhante. Compreendo como ninguém a atitude de Miguel Cadilhe face aos recentes acontecimentos do BCP. Dois factos a pesarem nisso com grande vigor, estou seguro. Um o de, alarve e inconscientemente, o Governador do Banco de Portugal o ter metido no saco das traficâncias do BCP. Miguel Cadilhe nunca teria pactuado com esses comportamentos. Não apenas por uma questão de seriedade, que é infinita; mas também porque acredita que o país, o mercado, os negócios, não se fazem assim. Ser cúmplice nisso doeria a Miguel Cadilhe como uma violação. Outro, porque Miguel Cadilhe entende que o nosso país não irá a lado nenhum enquanto o Estado (leia-se, os Partidos) pensarem mais em governar as empresas do que o país. O resultado é o que menos importa agora. Se os empresários portugueses fossem verdadeiramente empresários, Miguel Cadilhe tinha a vitória assegurada. Temo que assim não seja. Mas é o menos. A atitude - novamente corajosa, novamente independente, novamente inteligente, novamente de nobre e desinteressado serviço ao país - foi uma autêntica pedrada no charco estagnado da realidade económica e empresarial portuguesa. Enquanto Português, estou imensamente grato a Miguel Cadilhe por mais este serviço prestado à Pátria. É que, além de tudo o que disse, Miguel Cadilhe é um patriota.